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terça-feira, 7 de março de 2017

20 dos 25 deputados da comissão da vaquejada querem liberar atividade proibida pelo STF


20 dos 25 deputados da comissão da vaquejada querem liberar atividade proibida pelo STF
Mais da metade do colegiado é integrante da bancada ruralista.

BONGARTS/GETTY IMAGES
Prática de vaquejada no Brasil pode ser legalizada pela Câmara dos Deputados.
Dos 25 titulares da comissão especial na Câmara dos Deputados que discute a liberação da vaquejada, pelo menos 20 já se manifestaram a favor da atividade. Dos integrantes do colegiado, 13 são da bancada ruralista.
A comissão deve votar no início de abril o parecer do relator, deputado Paulo Azi (DEM-BA) sobre a PEC 270/2016. Se aprovado, precisa de 308 votos em Plenário, em dois turnos.
O texto altera o artigo 215 da Constituição, "para preservar rodeios e vaquejadas e expressões artístico-culturais decorrentes, como patrimônio cultural imaterial brasileiro, assegurada a sua prática como modalidade esportiva".
Em outubro de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional lei do estado do Ceará que regulamentava a vaquejada como política desportiva e cultural. Na avaliação dos ministros, a prática implica "crueldade intrínseca" no tratamento aos animais.
Na vaquejada, dois vaqueiros montados a cavalo têm de derrubar um boi, puxando-o pelo rabo.
Em 14 de fevereiro, o Senado aprovou, em dois turnos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 50/2016), do senador Otto Alencar (PSD-BA), que permite a atividade.
Paulo Azi defende que a PEC seja anexada no texto em discussão na Câmara. "Vamos propor que a PEC aprovada no Senado seja apensada a esta, para que o nosso parecer já seja aquele que vá para promulgação. Dessa forma, iremos adiantar a tramitação das propostas", afirmou.
Presidente da comissão, Kaio Maniçoba (PMDB-PE) foi relator da PEC 270 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. No texto, ele destacou que os defensores da vaquejada lembram que houve evolução nas "medidas que contribuem para preservação da integridade dos animais". Ele também defendeu a mudança legal em plenário.
Primeiro vice-presidente da comissão, o deputado Lindomar Garçon (PRB-RO) também é a favor da atividade, assim como o segundo vice, deputado Vicentinho Júnior (PR-TO), um dos autores da PEC, e o terceiro vice, deputado Domingos Neto (PSD-CE).

De acordo com o deputado Alberto Filho (PMDB-MA), a vaquejada é o "segundo maior esporte no Nordeste, perdendo apenas para o futebo". A atividade gera cerca de 700 mil empregos diretos e indiretos, segundo a Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ).
Ao votar a favor da PEC na CCJ, o ex-líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE) chamou a disputa de "prática esportiva hoje que é um patrimônio cultural do povo brasileiro"
Líder do PCdoB na Câmara, o deputado Daniel Almeida (BA), acredita que a resistência à vaquejada trata-se de discriminação com a cultura do interior.
Estão tentando proibir atividade secular, da cultura do nosso País, especialmente no Nordeste. Acho uma coisa preconceituosa. Talvez alguns que não conhecem a cultura do interior tentam inibir essa manifestação que é genuinamente do homem do interior, do homem do campo.Deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA)
Ainda se manisfestaram a favor da liberação da vaquejada os deputados Adail Carneiro (PP-CE), Arthur Lira (PP-AL), Fernando Monteiro (PP-PE), Genecias Noronha (SD-CE), Capitão Augusto (PR-SP) e Weverton Rocha (PDT-MA).
Os deputados João Fernando Coutinho (PSB-PE), Hélio Leite (DEM-PA), Vitor Valim (PMDB-CE), Wilson Filho (PTB-PB), Fábio Mitidieri (PSD-SE) e César Messias (PSB-AC) também são autores da PEC que integram a comissão. Dentro do colegiado, a proposta conta com o apoio ainda do deputado Hugo Motta (PMDB-PB), relator do texto na CCJ antes de Maniçoba.

Maus tratos

No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4983, ajuizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a Lei 15.299/13, do estado do Ceará, o relator, ministro Marco Aurélio Mello afirmou que laudos técnicos contidos no processo demonstram consequências nocivas à saúde dos animais, como fraturas nas patas e rabo, ruptura de ligamentos e vasos sanguíneos, eventual arrancamento do rabo e comprometimento da medula óssea.
O voto foi acompanhado pelos ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Cármem Lúcia. Em divergência, votaram a favor da Lei 15.299/2013, do Ceará, os ministros Teori Zavascki, Luiz Fux, Edson Fachin e Gilmar Medes.
Os defensores da liberação da vaquejada apontam como avanços a obrigatoriedade do uso de cauda artificial, a proibição do açoite e do uso de esporas e a imposição de regras para a desclassificação do vaqueiro que maltratar ou utilizar de más técnicas de dominação.

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